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Você já foi a um Ortóptico?


Minha esposa Rose tem um problema de vista de nascença,
ambliopia, a vista do lado direito é menos eficiente que a
esquerda, o oftálmico sugeriu que procurasse um ORTÓPTICO.
Profissional semelhante ao fisioterapeuta, só que trabalhando
com os músculos do globo ocular. Ao chegarmos ao tal
médico (!), na verdade, ainda não sei bem se é de fato médico,
porque o curso tem status de nível superior, mas, é um técnico.
Tem duração de três anos e tem como objetivo, identificar,
corrigir e ‘malhar’ os tais músculos, sendo uma extensão do
oftalmologista. Esse profissional na verdade ensina através
de exercícios, uma forma de condicionar a vista deficiente, no
caso da Rose, fazendo com que ela alcance a visão do olho normal.
Sua visão é mais ou menos como se o esquerdo fosse uma Ferrari
e o direito uma carroça. A parte técnica está concluída.
Agora, a prática...
Bem, foi aqui que o caldo entornou.
Entramos numa sala pequena, muito parecida com um
consultório pediátrico. Cheia de bichinhos pregados pelas
paredes, aranhas, minhocas, uma porção de carrinhos
entremeados por alguns aparelhos no mínimo esquisitos.
A ortópica pegou um daqueles aparelhos estranhíssimos,
antes, a examinou com uma lanterninha, as pilhas eram novas
e o feixe de luz provocou na Rose, justamente no único
olho que enxerga, o efeito de um sol de meio-dia quando
você esta dormindo num quarto escuro e alguém abre as janelas
de sopetão. Gente! Confesso que não sabia direito o que estava acontecendo. Desviei os olhos da revista na qual estava
completamente absolvido pelo artigo, escutei um grito.
Ou melhor, uma frase completa e compassadamente aos gritos,
(usarei o recurso CAPS LOOK para ilustrar toda vez que ela
alterava o tom de voz para falar com a Rose).
- A TIA NÃO ESCUTA MUITO BEM... Pode falar MAIS ALTO!
Desse jeito. Exatamente assim. Despertei assustado do meu
transe literário. – Que está acontecendo? Perguntei a mim mesmo
em tom quase audível.
Por sua vez, a Rose não fala alto nem para pedir dinheiro!
Seu tom de voz é normal-baixo para quase baixinho, a tal
doutora(!) me desperta pedindo para que a Rose falasse mais alto,
que ela não estava brincando, e que tinha de fato uma deficiência
auditiva acentuada. Acentuada? Na minha opinião era
completamente surda, a própria ‘velhinha da praça’. Bem, começa
que, além de surda era tonta. Ambas deveriam ter a mesma idade,
na ficha de consulta que havia preenchido e estava à sua frente
sobre a mesa, constava a idade da Rose, e ela chamando-a de
“baixinha”, já que ela se autodenominava ‘TIA’. – Fala mais alto
que a ‘Tia’ é surda! Bem que a Rose tentou. Começava gritando
e ia baixando o tom, depois voltava a gritar, esquecia e
diminuía a voz. A frase ficava com altos e baixos,
mais ou menos assim: - ACONTECE QUE A DOR COMeçou a
piorar agora, depois que viemos morar em Brasília,
ÉÉÉ... BRASÍLIA, DEPOIS QUE VIM PARA BRASÍLIA.
ENTENDEEEEU?
- Rose, senta aqui, vamos examinar...
- Onde? ONDE? NÃO TÔ VENDO NADA!
- Neste banquinho, (pegou um daqueles aparelhos esquisitos
que estava junto com os brinquedos) segure este aparelho e
olhe para a flechinha...
- Que aparelho? QUE APAREEEELHO? – nessas alturas,
eu me contendo para não cair em gargalhadas, depois das luzes
no olho da Rose, ela já não enxergava mais nada.
- Ô' Rose, não sou tão surda assim e nem você tão cega.
Mas, tudo bem, olha a flechinha no meio do aparelho.
- Flecha? Não tô vendo nenhuma flecha.
Não tô veNDO FLECHA NENHUMA, DOUTORA!
- Viu?
- Não.
- Ela mexe pra lá e pra cá. Está vendo agora, né? Ainda bem...
Vamos em frente!
- Perceberam que nessas alturas a própria doutora pergunta
e ela mesma responde.
- Desculpe ai doutora, mas realmente não estou conseguindo
enxergar nada, aquela sua lanterninha estragou tudo, tem que
esperar um pouco.
- Tudo bem. Então vamos sentar diante deste outro aparelho!
- Qual aparelho? Doutora? QUAL APARELHO?
- Xiii, começou tudo novamente!
E foi assim até acabar a consulta. Quando saimos para o corredor,
não pude mais conter o riso. Do consultório até em casa foi cômico.
Aquilo parecia conversa de maluco.
- Senta aqui!
- Onde?
- Sentou?
- ONDE?
- Legal, Agora olha nesse buraquinho!
- Que buraquinho? SENTAR ONDE? NÃO Tô vendo nada.
NAAAAADA.
- Água? Você quer água? Depois.
Vamos acabar primeiro este exercício...
- Esquece...
- Quê?
- ESQUEEECE!

Foi exatamente assim. Desse jeito, só estando lá pra entender.
Que consulta maluca.

LuizcomZ
Enviado por LuizcomZ em 02/07/2008
Alterado em 09/12/2012


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