O ocaso da vida
E pensar que tudo o que fiz,
Fiz por amor.
Quantos essas mãos já embalou,
Já acalmou, já adoçou.
O que já fiz por meus filhos,
Pelos filhos dos meus filhos.
Quantos banhos, quantas fraldas
Tantas papinhas, perdi as contas
das vezes que acordei à noite
porque um de vocês tinha medo.
Nao dormi para que você dormisse.
Para não esquecer de dar
o remédio na dose e hora certa.
Ou só para ficar segurando sua mão
enquanto pegava no sono.
Olhando agora, vejo o tanto que
minhas mãos mudaram.
Mudaram com o tempo.
Como a vida passou tão rápida
dos nossos dias até este momento.
Agora me vejo pela imagem
ofuscada do aço escovado
da bandeja de procedimentos
de um hospital qualquer.
Minhas veias não suportam
tantas agulhas, minha pele escurece.
Estou na enfermaria, diante de mim
um desconhecido me olha de longe
sequer me cumprimenta,
fala sobre mim com quem me trouxe.
Hospital público, particular, tudo igual.
Apesar do vai e vem, do corre-corre,
entendo vocês agora. Sinto medo.
Medo de ficar só. Ninguém pega
minha mão, já não é tão bonita,
de macia ficou flácida.
Quero trocar de roupa, tomar banho
passar um perfume cheiroso
sentar no banco do jardim
sentir a brisa varrer meus cabelos,
beber água quando estiver com sede
e não a hora em que 'alguém'
se lembrar que eu tenho sede.
A vida passa tão rápido.
Pensando bem, fiz o que tinha que fazer.
Faria de novo.
Avôs, avós são como uma segunda
chance de serem pais novamente.
Quero o colo da minha mãe!
Faz tanto tempo que não a vejo.
PVH-RO
concebido após visita na enfermaria
do Hospital das Clínicas.
LuizcomZ
Enviado por LuizcomZ em 31/01/2009
Alterado em 25/10/2016