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UMA ESCOLHA CHAMADA MARIA ANTONIA
10/01/2010 – Domingo 09h30

Ao chegar ao CECA – Centro Espírita Carminha de Araújo, logo no portão avistei, um pouco mais à frente uma cena de ternura e carinho, amor e devoção. A mãe escovando o cabelo da filha ainda com cara de sono, preparando-se para assistir à palestra dominical. Nessa manhã não houve atividades da mocidade e pequena infância, provavelmente porque os encarregados ainda estejam em viagem de final e início de ano, o que é muito comum. A cena chamou atenção tanto pelo gesto da mãe como pela concordância da filha em aceitar consternadamente e sem muxoxos o desembaraçar dos cabelos cacheados e loiros. O carinho era visível no rosto daquela mulher de corpo frágil e mirrado, aparentando uns quarenta e poucos anos, mas certamente deve ter entre trinta e trinta e cinco anos. Um carrinho de bebê coberto com uma lona plástica de propaganda de um evento social qualquer, ainda com as gotas da chuva recente da madrugada. A calça que vestia remetia ao trabalho braçal que executava pelo logotipo do empregador. Prefeitura Municipal de Porto Velho.

Entrei, sentei-me em local de costume quando chego após o início dos trabalhos de abertura, prece e evangelização. Em seguida aquela mãe entra com sua filha e ao meu lado se acomoda. Não contive tamanha curiosidade, puxei logo conversa. A mãe chama-se Mônica. Há cerca de uns quatro anos descobriu que estava grávida. O pai, sabendo da notícia impôs a seguinte condição: - ‘Para que a gente fique junto é preciso que você escolha, eu ou a gravidez, por isso quero que você faça o aborto’.

Sua escolha atende pelo nome de Maria Antonia e fará três anos neste dia 29 de Janeiro de 2010. Sábia decisão tomada pela Mônica. Homens iguais a esses existem aos montes em qualquer lugar. Uma menina como essa, certamente não nasce todos os dias.
Por decisão dela, conta a mãe, o aniversário será comemorado no LEAL – Lar Espírita para Idoso André Luiz. Ela disse que o aniversário é dela e ela quer passar junto com os avôs da ‘casa dos velhinhos’, como ela batizou o lugar.
Como se isso não bastasse, pediu para a mãe ler um livro para ela do qual se encantou. Violetas na janela. Obrigando a mãe a praticar o ato da leitura, hábito há muito tempo esquecido.
Mônica é funcionária pública há dez anos da coleta de lixo do município. É gari. Pode-se ver por que essa menina é tão especial e precisava que viesse ao mundo, ainda que fosse para ocupar o lugar do pai em casa. Neste domingo, Mônica saiu direto do trabalho e trouxe a filha sem tempo de passar em casa, por isso ela estava penteando o cabelo no momento em que nos vimos.
Havia varrido a Praça da Vieira Caúla com Guaporé, onde começou por volta das cinco e meia da manhã. A filha, quando o trabalho é no domingo, acompanha a mãe, pois a creche não atende nesses dias.
Essa é a história de uma vencedora, aliás, duas vencedoras.
Mônica e Maria Antonia. Moram, só.
A menina ainda ajuda em casa, dentro de suas limitações imita a mãe acompanhando a passar pano na casa e guardar as roupas nas gavetas.
Que o bom Deus às abençoe, hoje e sempre!
LuizcomZ
Enviado por LuizcomZ em 10/01/2010
Alterado em 14/02/2010


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