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O vôo rasante do Albatroz

Lorum recebeu um recado pelo msn, a princípio teve o
ímpeto de responder de pronto; ponderou.
Olhando com calma todos os acontecimentos, folhando
as páginas eletrônicas da internet, deparou-se com
o vôo rasante de um Albatroz.
Algumas pessoas, amigos de longas datas,
um agregado recente, gente que aprendemos a amar.
Pessoa que até bem pouco tempo tinha o livre acesso
em sua casa. Como se diz no linguajar dos mais antigos:
Dormia em qualquer quarto. Enxugava-se com qualquer toalha,
Mijava com a porta aberta. Tão íntima que era.
Pois bem. Olhando o vôo rasante que o pássaro imprime,
percebemos o quanto ele esta próximo de buscar sua comida.
Ou, de ser a comida. O risco de adejar dessa maneira é tão
recíproco ao sucesso quanto ao suicídio, nesse caso.
A analogia desta introdução é para explicar como se perde a
noção entre a linha que separa o permitido do proibido.
Após quatro anos de convívio, Lorum teve a dolorida confirmação
de que sua nora não era tudo o que se supunha. Que não era
igualmente tão maquiavélica como se apregoou, porque prova
nenhuma foi apresentada. Como onde há fumaça, sempre há
fogo, impossível vislumbrar qual face era a verdadeira, tamanha
a fumaça que se propagou. A traição extrapolou o namoro.
Lorum sentiu como sendo ele o traído. Enganado todas as
vezes que saíram de braços dados pelos corredores do shopping,
pelas calçadas e bares, baladas e festivais. Pior é acreditar até
o último momento. Não se pode virar as costas simplesmente.
Só porque alguém disse, outro falou, aquele um apontou.
Como disse, são quatro anos, não quatro semanas;
Rorum havia dito como presságio,
que a escolha era difícil mas, era preciso ser feita.
Ou o filho, ou as amigas. Amizade também é importante.
As amigas são mais antigas e
traduzem de certa forma a liberdade que se temia perder.
Perdeu-se muito mais do que se possa imaginar.
Passaram-se quatro anos. Até que se perceba o que ficou,
passarão outros quatro ou dez anos. A vida não será mais
a mesma. Quando se volta para a cidade de onde saímos,
após alguns anos estudando ou trabalhando fora, notamos
a cruel diferença. As pessoas são as mesmas, as casas,
os bares, as avenidas e até o por do sol. Mas, nós já
não somos os mesmo. É por isso que não entendemos
porque as pessoas mudam. Não são elas. Somos nós.
Viramos as costas para tudo de repente e quando nos
damos conta do rumo que as coisas tomaram, já é tarde.
Nosso rosto esta diferente. Sorrimos, mas não com o
mesmo vigor de antes. Brincamos, mas não com o mesmo
entusiasmos de outrora. Não dá pra tentar ser adolescente
a vida inteira. Podemos nos vestir como tal, andar, gritar,
até mesmo viver. Mas, no fundo de nossa consciência
sabemos que estamos enganando alguém. A nós mesmos.
A vida passa muito rápida. Já passou pra você, pra suas
amigas e para essa estranha mania de querer permanecer
sempre jovem e improdutiva.
Lamentável. Poderia ter sido bem diferente.
Perdeu mais que um namorado. Perdeu uma família.

LuizcomZ
Enviado por LuizcomZ em 20/01/2010
Alterado em 06/11/2012


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