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A vida é uma eterna separação...

A cada dia nos separamos de tantas e tantos
que não percebemos a quantidade de 'itens'
que ficaram no dia de ontem e que nunca,
absolutamente nunca mais reaveremos.
A palavra separação na sua amplitude,
impele-nos uma reflexão profunda,
algumas vezes felizes e na grande
maioria, dolorosa. Não que toda vez
que nos separamos de algo tenha
que ser doloroso, triste, cruel ou
definitivo. Pela nossa própria criação,
desde pequeno, nos ensinam apenas a viver.
Obviamente nascemos para a vida.
Essa é a parte das alegrias.
Mal sabemos que caminhamos diariamente
ininterruptamente e sistematicamente
para um ponto em comum a todos
que nascem. A hora impar.
Acontece que vamos nos separando
pouco a pouco de coisas alegres que aprendemos
a gostar desde o nascimento.
Não precisamos voltar ao útero. Não é o caso.
Até porque não faço regressão de vidas passadas.
O leite materno, impensável nos dias de hoje
imaginar que era tão bom e necessário,
seguramente a primeira de muitas perdas.
Em seguida, o trono de primeiro filho,
primeiro sobrinho, o primeiro neto.
E as perdas continuam nessa velocidade maluca.
Somos separados de nossos colegas da escola primária,
com eles se vão também os professores e o tio da pipóca.
O amigo ou amiga que tinha o pai gente boa que sempre
levava todos nas matines, pagava lanche e ainda era
sempre divertido e atencioso. A cada tombo da bicicleta
uma ferida nova e a despedida da falta de jeito.
De repente acordamos numa rua nova, bairro novo, uma
nova escola em outra cidade. Nossos pais, também eles
se despedindo de suas atividades, seus empregos, seus
amigos, seus sonhos. E a vida esvai a cada dia, sempre
quando estamos acostumando a algo novo.
A cada aperto de mão, abraço, amaço lá se vão inúmeras,
centenas, milhares de células do nossa pele. É o nosso
corpo despedindo-se para novas fases da vida.
A cada banho as tramas de nossas toalhas
escondem outras tantas que saem na renovação
através de nossa preocupação em despedirmo-nos
do suor, da sujeira diária daquelas brincadeiras
em dias de enxurradas, das peladas nos campinhos
de terra, dos pique-escondes, que sabemos
que existem e não temos mais a coragem de
empreender novamente nas mesmas alegrias 
de brincadeiras tão simples e tão prazerosas.
Porque também nos despedimos em algum
momento e nem percebemos da nossa inocência.
Entramos na vida adulta e a vida corre ainda mais.
Responsabilidades, compromissos, sisudez.
Sorrisos substituem as estrondosas gargalhadas,
apertos de mãos distantes e frios separam-nos
dos fraternos abraços de outrora.
A vida adulta esta apenas começando.

...continua
LuizcomZ
Enviado por LuizcomZ em 15/07/2010
Alterado em 01/11/2012


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