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                                          CIÚMES
                                                         
                                             Parte 1

Uma tarde morna, beirava os vinte e oito graus, recebi o telefonema e não identifiquei o número de chamada. A voz era conhecida embora, somente após inconfundível sorriso nasalado é que pude precisar quem estava do outro lado da ligação. A voz de contentamento inicial deu lugar a uma tonalidade de preocupação e inquietude ao narrar o motivo do contato. Amiga há pelo menos nove anos, não nos falávamos há uns oito meses e antes disso há pelo menos quatro anos. A conversa seguiu em tom sério e objetivo. Tinha pressa em adiantar o assunto visto tratar-se de algo que fugia ao seu conhecimento e despertava medo e cautela por parte de quem vinha o motivo. Vânia abriu a conversa com um pedido. Queria muito que eu fosse se possível naquele mesmo instante, atender a uma amiga dela que passava por um tremendo problema e que estava a ponto de enlouquecer. O problema era espiritual. Mas, havia os agravantes. Essa amiga, Evra, havia separado do marido há alguns meses e o clima ainda recente e tenso, piorou com a reação do filho, ainda jovem, e mesmo com idade suficiente para entender o processo da separação, relutava em aceitar os novos rumos que suas vidas tomaram. Alguns anos antes, um amigo e vizinho do casal morreu em um acidente e o fato abalou profundamente o jovem Micoan a ponto de nos últimos meses, sentir a presença dele, o amigo desencarnado, em sua casa, precisamente em seu quarto. Evra não apenas percebeu que havia algo estranho como passou a vê-lo em várias oportunidades num processo chamado de aparição, e que se manifestava de tal forma e com tal frequência, que Vânia lembrou-se de mim como a pessoa para interpretar, ou melhor, explanar sobre esses fenômenos e trazer um alento a uma mãe aflita e agoniada com a situação que já durava mais que o suficiente para esse pedido de socorro.
Tenho tido ao longo desses pouco mais de meio século de exposição no plano físico, uma relação bastante amistosa e satisfatória relacionada com o espiritismo, doutrina codificada por Kardec e conhecida a partir de suas obras básicas, isso, no entender e me conhecendo há quase uma década, fez Vânia se virar em minha direção para ajudá-la a ajudar à amiga. Isso é muito comum no meio espírita kardecista, o trabalho itinerante de visitas inesperadas com pedidos de explicações e socorros balsâmicos, seja com explanação ou passes fluídicos. Naturalmente que após uma leitura apropriada seguida de prece de abertura e pedido de auxílio a Deus e amparo indispensável de nosso Mestre Jesus, o Médico das Almas. Na certeza de esclarecido o motivo de nosso consórcio nesse embate frente ao que nos propusemos, compareci em dia e hora marcados para o primeiro encontro na casa de Evra. Casa imponente, suntuosa e decoração de bom gosto. Abriu a porta de frente uma jovem que, a julgar pela educação e trejeitos, era a auxiliar nos trabalhos domésticos. Muito atenciosa, sabendo do que se tratava, deu logo andamento a encaminhar-me para junto delas, próximo à piscina, um ambiente aprazível e confortável.
continua...
LuizcomZ
Enviado por LuizcomZ em 19/08/2010
Alterado em 06/11/2012


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