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                                      CIÚMES
                                      Parte – 9
 
Ao final da reunião de quarta-feira, ocorreu-me que sem a presença do irmão Almir e para não desfalcar em número de participantes na sustentação e apoio ao evangelho desta quinta-feira, convidaria para a reunião alguém já acostumado à faina de seareiros e que sempre esteve à mão para casos de emergências. Após deixar Rose para o plantão na UTI do HB, passei de volta no Play Gol onde Mendel havia à pouco, terminado o futebol com os colegas do curso de medicina da Faculdade São Lucas. O jogo é um preparativo para o torneio interno dos acadêmicos do curso. A quadra de esporte ficava a uns poucos quarteirões do local da reunião. Desta vez, ao contrário da semana passada, todos da casa e mais uma amiga vinda igualmente de Uberaba, estavam todos no horário previsto para o início da leitura escolhida aleatoriamente pela dona da casa. O semblante de todos era bem mais leve e descontraído que da primeira vez.
Findo a leitura que reportou ao Capitulo 13 do ESE, ‘que vossa mão esquerda não saiba o que faz vossa mão direita’, item 4, ‘Os infortúnios ocultos’, os comentários brotaram com espontaneidade. Vanda lembrou-se de caso recente ocorrido com ela própria sobre uma pedinte diante de um salão de beleza, que embora estive lotado e com pessoas de posse a julgar pelas roupas e carros importados no espaço reservado a clientes, o pedido foi dirigido a ela. – Esta frio, a senhora poderia me arrumar um casaco? O período de frio é curto durante o inverno, porém, com temperaturas sempre elevadas, qualquer queda no termômetro nos faz correr atrás do agasalho. Vânia a princípio relutou, estava de saída e havia estado ali a trabalho, fora entregar encomendas das roupas que vende e receber algumas promissórias, tinha pressa e outros lugares ainda para visitar, olhou em volta e perguntou à senhora, - Puxa, logo pra mim, com tanta gente nesse salão? Já pediu para aquelas que estão ali nas poltronas aguardando a vez? A mulher virou-se na direção indicada com a cabeça pela Vânia e fez um comentário que soou estranho e incompreensível àquele momento, - Aquelas ali? Elas dão com uma mão e tiram com a outra. Vânia, que estava de saída, disse que iria até sua casa e voltaria com o casaco. No caminho de casa ficou imaginando o que significaria exatamente aquela frase. Menos de quarenta minutos estava de volta. Entregou a encomenda e foi direto ao que a intrigava. – O que a senhora quis dizer com ‘dá com uma mão e tira com a outra? – Da última vez que fiz um pedido a uma delas, estava com dores nas pernas devido ‘minha trombose’, me deu o que pedi na condição de que passasse umas roupas, na verdade uma pilha de roupas, fiquei ‘pra’ mais de 3 horas em pé, com dor, e não me serviram nem água pra beber.
Se o trabalho se paga com o trabalho, aprendemos isso desde muito cedo, a caridade se paga com caridade, igualmente. Quantas vezes nos deparamos com alguém a nos pedir algo de que precisa e retribuímos o pedido com outro pedido. A caridade à base de barganha, também distorcida pela frase comum de que ‘uma mão lava a outra’, não tem nada de meritório. Na verdade, sua recompensa já foi paga e à vista, tanto em moeda quanto ‘à vista’ dos demais. Se fez para mostrar que faz, não faça. Que vossa mão esquerda não saiba o que faz vossa mão direita. (Mateus, 6: 1 a 4)
LuizcomZ
Enviado por LuizcomZ em 31/08/2010
Alterado em 23/07/2016


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