CIÚMES
Parte – 10
A noite de Laélia estava prestes a sofrer grandes transformações. Após um domingo aparentemente tranquilo e igual, o sono chegou como de costume logo após o ‘show da vida’, as luzes do condomínio onde moras estavam praticamente todas apagadas, uma ou outra insistia em ser diferente. Quase nenhum movimento e barulho, só dos ares-condicionados. Noite quente, abafada, a meteorologia anunciava chuvas só no final de outubro. Após desligar todas as luzes do apartamento, verificar o registro do gás, certificar que a porta da frente estava trancada, adentrou o quarto vagarosa e sonolenta. Ajustou o alarme do celular para 6 horas, o último fato de que se lembra é que o relógio marcava 23h15. Em seguida já dormia profundamente quando foi despertada aos berros por uma garotinha reclamando fortes dores e que precisava ser levada com urgência para o hospital sob risco de morte. Repetia desesperada que era hepatite e que queria que a Laélia a levasse ao hospital. Para piorar, estava chovendo. Chuva forte como sempre acontecia após longos períodos de estiagem. Correu até a janela procurando pela buzina insistente do outro lado da avenida, percebeu que sua mãe atravessava a pista encharcada e completamente molhada, vinha em direção à guarita do prédio. Súbito, virou-se para sua cama, percebeu que havia alguém deitado e tremia reclamando do frio. Aproximou-se lentamente e mais lentamente ainda levou a mão até a colcha que cobria até a cabeça, levou um tremendo susto, quase desfalecendo ao ouvir um zunido alto estridente, era o som da campainha. Quando fez o movimento inverso para ir até a porta, percebeu que o som era do celular despertando. Seis da manhã acordou assustada, o peito arfando, ouviu uma voz fina e trêmula, reconheceu de pronto, a menina estava ao pé da cama suplicando por ajuda, precisava ir ao hospital. Procurou pelo celular para desligar o alarme e viu no visor 23h45. Haviam se passado apenas 30 minutos do momento em que adormeceu. Sentou-se à beira da cama lembrando que havia visto a mãe atravessando a rua na chuva, sabia ser impossível uma vez que a mãe reside em outro estado, àquela hora estaria dormindo. A menina, os gritos, sua mãe, tudo havia sido um pesadelo. A casa estava da maneira que havia conferido antes de deitar, pensou em ligar para a mãe, saber se estava tudo bem. Com o fuso horário, desistiu. Lembrou-se de quando aconteciam fatos como esses, sua mãe sempre dizia para concentrar-se em Deus e pedir em oração ao mentor espiritual, ajudasse a encaminhar aquela alma suplicante a um hospital no plano astral para o devido tratamento e auxilio. Dito e feito. Alguns minutos e já dormia em profundo sono. Seis horas, o despertar. Banho, café, escovar os dentes, desceu as escadas fazendo a prece matinal, saiu do condomínio atravessou a pista, o trabalho ficava a uns 300 metros da portaria do condomínio. Naquela noite de pesadelo, apenas a chuva era verdadeira. A meteorologia enganou-se.
LuizcomZ
Enviado por LuizcomZ em 01/09/2010
Alterado em 18/10/2012