5 dias na Ala Verde!
Quando sai da empresa, por volta das 20h30, na quinta-feira,
dia 5, segui a linha mais reta que pude traçar até chegar ao
PS da Unimed. Entrei direto no ambulatório 1 onde estava
a Dra. Regina, conversando com a Rose, meu sogro havia
sido internado minutos antes com dores intensas devido
ao processo renal que desenvolvera ao longo de seus
70 anos bem vividos, segundo ele. De fato, não há como
negar a exuberância de tantas aventuras regadas a todo
tipo de bebida que se possa imaginar. Para ele a melhor
bebida sempre foi a que deixava tonto mais rápido e nunca
a que rotulava a garrafa. Mas, tudo tem suas perdas e no
caso dele não fora diferente. O sistema renal havia
sucumbido há pelo menos uns três anos e agora quem
ditava a quantidade de bebida era a máquina de
hemodiálise três vezes por semana. Lembro-me que
avisei que estava com uma forte dor de cabeça e que
nem podia enxergar direito. A Dra. Regina pediu que eu
fosse até o balcão para fazer a ficha de internação,
assim ela poderia prescrever o medicamento. Esse
ir ao balcão e voltar para o primeiro atendimento
levou exatos 56 minutos. Tempo suficiente para
que a dor tomasse conta e me deixasse sem noção
do que havia por perto, ou quem estava por perto.
Recordo-me que meu filho Elmer chegou após
alguns minutos e ficou andando de um lado para
o outro, tentando chamar atenção para a médica
que estava numa sala de repouso no PS, dando
atendimento justamente ao avo dele.
Com o passar do tempo, fiquei desconectado do
que estava acontecendo à minha volta. Perto das
22h30, fizeram um medicamento em minha veia,
em seguida, como a pressão não cedia, já estava
16x11, as dores eram insuportáveis, entraram com
outro medicamento, tilatil, mais tarde na mesma
sequencia, tramal. E a dor não dava folga. Já passava
da uma e meia da manhã e nada de estancar.
Próximo de duas e meia, novamente vieram com
outra carga de medicamentos e mais tramal.
A essa altura minha esposa já estava mais do
que preocupada, meus filhos, todos próximos e ao
redor da cama ficaram preocupados com a
'preocupação' da Dra. Regina. Rose já pensava
em aneurisma. Nesse momento a pressão
chegou a 18x12. De minha parte, mesmo com
toda aquela dor, ainda mantinha a consciência
e lembrava meu tio Otávio. Aconteceu algo
semelhante com ele e acabou ficando incontrolável
a situação desencadeando para o aneurisma.
Lembro-me de ir ao Hospital da Santa Casa em
Campo Grande e através do vidro da UTI, fiquei
por um longo tempo olhando para ele entubado e
sem a menor reação a tudo que acontecia àquele
momento. Nesse instante, lembrava das minhas
conversas com meu amigo de todas as horas,
Jesus, e dizia a ele que ainda tinha muitas coisas
para fazer e que aquele certamente não era o
momento certo, uma vez que eu tinha uns
compromissos a cumprir. Começava a cantar
e a única música que me vinha à mente era
uma cantiga boba e sem nexo que nem sei
se existe, mas, que dizia assim:
- Ai, ai, ai carrapato não tem pai...!!!!
Pode? Claro que pode! Eu cantei.
Três e trinta e oito da manhã.
Novamente ouvi a Rose dizendo
que a médica, agora era outra, Dra. Daniele,
a Dra. Regina já havia saído do plantão,
dizia que entraria com Morfina.
E se não passasse ela não saberia
mais o que fazer. Foi quando essa médica
teve a ideia de investigar mais um pouco
meus receituários e observou que reclamava
de dor nas vistas e que a cabeça doía quando
dirigia olhando para o sol das 7 da manhã.
Entrou com uma dose de ataque de antibiótico
para sinusite. Foi o que fez a dor regredir e a
pressão começou a cair.
Ás 7h50 minutos chegou o neurologista.
Por volta das 13h00 fui transferido do PS
para o apto 10 da Ala Verde.
Foi ai que pude ver dois fatos
distintos e importantes.
Diria que um importante e o outro
importante e maravilhoso.
Entrou no apto duas jovens, técnicas em
enfermagens, novas e em início de carreira.
Uma delas me atendeu assim que cheguei
ao apto, retirou o escalpe que haviam
colocado no PS e preparou para nova
medicação, com tal cuidado e esmero que não
senti absolutamente nada. Puncionou a veia e
deixou correr o medicamento como se não o
houvesse feito. Olhando para ela me lembrei uma
sobrinha, filha de meu irmão mais novo. Pela
cor da pele, cabelo, nome e principalmente
pela sua meiguice. Na sua profissão isso é
essencial para transmitir calma e segurança.
Ainda hoje, após 33 anos, quando olho minha
esposa cuidando de mim, como o fez a poucas
horas, com o mesmo olhar de quando a vi pela
primeira vez, encontro o mesmo olhar de carinho,
atenção e amor. O importante é não interromper
o fluxo de amor que parte de Deus e passa por
você na atividade que escolheu. É por isso que
alguns casamentos duram uma vida inteira, ou,
várias vidas, quem sabe?
Obrigado a todos vocês que dividiram comigo
essa experiência 'diferente' que vivi entre os
dias 5 e 10 de Maio de 2011.
Em tempo: A todo o corpo de enfermeiras,
técnicas, auxiliares e apoio do Hospital Unimed,
que trabalharam nos plantões entre 20h30
do dia 5 até 00h16 do dia 10/05/2011.
Ás médicas Regina e Daniele. O Dr. Alexandre
com seu martelinho também esteve presente.
LuizcomZ
Enviado por LuizcomZ em 10/05/2011
Alterado em 18/10/2012