Se eu pudesse...
Fazê-los compreender que com o passar dos anos,
muito do que depositamos importância hoje não tem
a menor consideração após certo tempo; que o bem
mais valioso é viver em paz e harmonia e que é
justamente por conta das eternas buscas por
melhorar as condições materiais é que nos afastamos
das únicas verdades que importam no futuro; a
atenção de quem amamos, o carinho de quem
criamos; que por maior e mais bonita que seja suas
conquistas no terreno das ambições e competições
materiais, nenhuma delas vai segurar sua mão, ouvir
seus pedidos, secar suas lágrimas, rir de suas
histórias, aliviar seu coração das angustias; calçar
seus chinelos, ler os livros que seus olhos já não
conseguem ver, molhar seus lábios quando a sede
secá-los, delinear suas feições com um simples lápis
de olhos ou fazer-lhe a barba rala e branca.
É tão simples de entender agora que o tempo se
provou tão sábio e verdadeiro; que tudo que se ouviu
sobre quando a velhice chegar é ainda menos do que
lhe contaram; que as discussões por ideais e ideias
não lhe asseguram respeito diante do jovem que
fostes um dia, simplesmente porque são jovens; a
juventude é importante, é a fase mais criativa do
homem ainda que não consiga transformar em
realidade seus anseios; que ser jovem é diferente de
estar jovem. Que as dificuldades mal compreendidas
são degraus importantes que pulamos na escala
evolutiva; e que não adiante subir correndo que o
seu momento é só seu e terá que voltar para vivê-lo
na sua essência; que teria sido bem mais fácil ouvir
do que falar; sorrir do que lastimar; aceitar do que
criticar; dar a mão do que empurrar. Quando se olha
para o passado vemos o futuro que plantamos.
Aceite que seus cabelos ficarão brancos um dia, isso
se os conservar; aceite que seus ombros arquearam
por falta de músculos outrora tão cobiçados; que sua
cintura será menos atraente e seu peso mais evidente;
que seus passos assim como seus gestos serão
menores e mais lentos que sua vontade de realiza-los;
musicas que falam da vida e da alma serão mais
importantes como trilha sonora das suas lembranças.
E por fim, quando olhar para aquela esquina onde
antes havia um terreno verde e baldio com uma linda
e gigantesca árvore, hoje habitam espremidas em
apartamentos famílias que nem sabem de sua
existência e que a única vista que tem são outras
janelas a lhes vascular a intimidade.
Ah! Se eu pudesse fazê-los entender o que eu não
entendia na minha juventude.
LuizcomZ
Enviado por LuizcomZ em 28/12/2014