Hoje, 26 de Setembro de 1958
Hoje
Há exatos cinquenta e oito anos, numa pequena cidade no sul do antigo estado do Mato Grosso, hoje Mato Grosso do Sul, numa simplória enfermaria na cidade de Ponta Porã, que na língua tupy-guarany, significa Ponta(lugar/pedaço) Bonita, nasci e vivi parte de minha infância. Aprendi algumas coisas que serviram para aqueles dias e aquele momento em que a cidade se me apresentava. Nada de que me orgulhe e tão pouco me envergonhe. Entendi que pessoas queridas e próximas se vão, como quando meu avô Antonio, de quem herdei o meu segundo nome, e que em várias noites lembro-me de haver deitado com minha mamadeira de garrafa de guaraná com bico de borracha, entre ele e minha avó Vitória. Claro que essa é uma das imagens que fico em dúvida, envergonhado ou orgulhoso. Provavelmente orgulhoso por haver tido avós tão carinhosos e amigos naquele tempo e enquanto os tive. Do vô Antonio, a última imagem que tenho é de passar correndo pela sala atrás de um outro garoto, nem me recordo se era um primo, irmão ou filho de alguém que como outros, o estavam a velar em seu leito mortuário. A vida é uma colcha de retalhos. Cada pedaço vai se moldando e formando um imenso mosaico de lembranças boas e não tão boas. Penso que as boas são em maior número. Afinal, a soma dos dias calmos, alegres e festivos são maiores que os de tristezas e de choro. Naquele ano, por exemplo, o brasil foi campeão do mundo pela primeira vez na Suécia e Pelé nasceu para o mundo. Só por isso já valeu a pena ter nascido no ano de 1958. Em 1962, com quatro anos, notei que meus tios e meu pai estavam bem alegres, embora não soubesse o motivo, mas certamente, tinha alguma coisa a ver com uma outra copa do mundo, o bicampeonato no Chile. Quando pude entender os motivos, eu já gostava de jogar futebol e tinha um time para torcer, aliás, uma academia de futebol comandada por um outro negro, só que aço, Ademir da Guia, filho de outro craque consagrado e muito comentado no meio esportivo, Domingos da Guia. O ano era 1970 e o Brasil foi tri campeão mundial no México. Dessa seleção já me lembro de tudo, do primeiro ao último jogo, do goleiro ao ponta esquerda. E Deus está de prova que não abri o Google para relacionar o escrete canarinho comandado por Zagalo, o nosso ponta esquerda no bi do Chile. A escalação? Felix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo. Clodoaldo, Gerson e Pelé, Jairzinho, Tostão e Rivelino. O famoso 4-3-3. Gostava tanto que em 1972, numa quarta-feira à noite, no estádio Belmar Fidalgo, hoje uma praça poliesportiva, até onde sei, estreei com a camisa 9 da Sociedade Esportiva Palmeiras, comandada pelo Sgto. Orlando Ferreira, filho do ‘seu’ Lucas Ferreira, após um único treino no antigo campo do Senai, na Av. Afonso Pena em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, ele me tirou do treino ainda no primeiro tempo e disse vai descansar que você joga hoje à noite no time principal. Eu que tinha ido com o amigo e vizinho Dalton Luiz Oliveira, filho do treinador, como convidado a completar o time reserva que treinava os titulares. Daquele dia em diante, sempre estive em campo nos campeonatos que se seguiram. Até os quarenta anos, quando rompi os ligamentos do menisco e cruzado posterior do joelho direito numa partida de final de campeonato máster na Colônia de Férias da Associação Comercial de Campo Grande, jogava regularmente pelo menos 3 vezes por semana em média. Muitas outras aventuras e descobertas foram se revelando ao longo desse tempo. Nem falei que vi a alegria e a dúvida estampada no rosto de pessoas boas e crédulas, quando a Apolo 11, com Neil Armstrong, Edwin ‘Buzz’ Aldrin e Michael Collins sendo os primeiros homens a pisarem no solo lunar. É, algumas coisas se passaram. Quando em 22 de novembro 1963, assassinaram a tiros o então jovem e popularíssimo presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy desfilava em carro aberto em Dallas. Nem comentei sobre o muro que separava as Alemanhas, oriental e ocidental, que não vi os 66,5 km de extensão ou percebi ser construído a partir de 13 de Agosto de 1961, talvez por haver sido levantado de madrugada, mas vi quando foi demolido, depois de 28 anos, em 9 de novembro de 1989. Teve ainda a Ovelha Dolly, o primeiro mamífero a ser clonado a partir de uma célula adulta, 5 de Julho de 1996 e que morreu em 14 de Fevereiro de 2003. Pois é, naqueles dias toda a imprensa publicava entre espanto e alegria, que o homem estava começando a querer brincar de ser Deus. E que a brincadeira ficou mais séria a partir do momento que foi possível recriar o Big Bang, a explosão de expansão do universo através do LHC, o acelerador de partículas que foi utilizada para descobrir o Bóson de Higgs, a partícula elementar que da massa a todas as outras. Coisas boas e coisas más. Nem vou falar do 11 de setembro de 2001. Nem tão pouco da barragem do fundão em Mariana MG. Vi e ouvi um tanto de coisas. Mas, como disse, tem mais coisa boa do que ruim. Como o meu casamento, o nascimento dos meus três filhos, a saúde que eles gozam e a educação e simpatia que sei por reconhecimento de pessoas que nem sabem que sou o pai deles. Da fidelidade e amizade incondicional de minha esposa e companheira, agora cuidadora, uma vez que, da área da saúde, tem sido fundamental nos cuidados com minha patologia crônica. Portanto, este dia é para ser comemorado de fato. Sou feliz e agradeço a Deus por mais um ano que intero e se inicia.
LuizcomZ
Enviado por LuizcomZ em 27/09/2016