Invisível
José, meu nome é José. Sou Zé. Moro aqui, ali, lá. Ando perambulando pra lá e pra cá. Sou natural de São Paulo, capital. Tenho trinta e sete anos, fui jogador de futebol. Há muito tempo que estou andando. Joguei na primeira, segunda e terceira divisão. O caminho inverso que esperava, não aconteceu. Depois eu...
Sua voz se calou, deixou que eu deduzisse por minha
conta o óbvio. Zé é um morador de rua.
Habita a região do Sesi da Rio de Janeiro. Dorme sob as marquises dos portões de acesso, ora ao ginásio pela rua Matrinchã, ora à escola pela rua Dourado. Sua aparência é facilmente identificável como tal. Veste uma camiseta de manga comprida que do branco original, só se percebe em diminutas partes. Uma camisa do Palmeiras. Das novas, pelo que mostra o patrocinador. Mochila de apoio na costas, tipo porta lap top, e lotada de suas coisas e lembranças. Não demostra muita disposição, interesse, ao
contrário, apesar de calmo no falar, tem distante o olhar. Dentes? Todos os que se pode ver, estragados, Os de cima já não estão mais lá. Uma vida que ele não queria, certamente. Ontem o vi na calçada dos fundos do Hipermercado DB. Já alguns dias o tenho visto por estas bandas. Apesar da idade que diz ter, sua aparência é de que tenha passado dos cinquenta há tempos. Hoje ele comeu; o café com leite, pão com presunto e queijo imaginei poderia lhe fazer mal, afinal, tenho visto revirando o lixo nas redondezas e comendo comida azeda e algo ‘diferente’ pode causa revolta no estomago. Penso que seja assim, afinal, a mim só cabe a imaginação. Voltando para casa ainda olhei mais uma vez para trás em sua direção, estava tomando o pingado e continuou andando. É um andarilho morador de rua, o nome, não poderia ser mais apropriado, Zé.
Um dos muitos invisíveis da sociedade.
LuizcomZ
Enviado por LuizcomZ em 17/08/2017
Alterado em 18/08/2017