Imagina o primeiro, Vô!
Voltando da faculdade dia desses, fica uns três quilômetros de
casa, já estava decidido a vir caminhando, aproveitar o
percurso para um exercício e ouvir um dos áudio books no
smartphone. Alguns passos ao sair da calçada da Uninter, na
Av Brasil, logo no começo ali da Rua 1000, percebi que o
ônibus estava chegando ao ponto, ainda fiquei na dúvida se
caminhava ou aproveitava o momento.
Um pouco cansado e já escuro, no inverno o sol se põe mais
cedo, optei pelo ônibus. Passando a catraca resolvi ficar em
pé, embora, da metade para o fundo ainda haviam lugares.
Estou lá equilibrando próximo à porta do meio do coletivo,
quando sinto um tapinha delicado e suave em meu ombro.
Uma jovem de uns 20 a 23 anos, pela aparência, com um
sorriso carinhoso e olhar compassivo, perguntou:
- O senhor quer sentar aqui? Levantando-se do lugar em
que estava e me apontando com um gestual característico o
acento. Cordialmente, e entendendo sua gentileza, agradeci e
disse que logo desceria e que também não se preocupasse,
afinal, haviam lugares vazios no ônibus.
Após a troca de gentilezas, ela se sentou e eu me detive a
observar a paisagem pelo vidro da porta à minha frente.
Minutos depois, ainda olhando para o movimento lá fora,
percebi dois fatos importantes, primeiro, a juventude não é de
toda alienada ou desconectada das questões de
solidariedade, humanidade, e, sobretudo, a preocupação com
os direitos daqueles que estão na chamada terceira idade.
Bem, aqui vem o segundo fato, ou devo dizer, a realidade do
fato. Há muitos anos, aqui mesmo em Santa Catarina, Rose e
eu fazíamos uma viagem até Novo Hamburgo, no Rio Grande
do Sul, ainda morávamos em Campo Grande, MS, e passando
por uma das praia daqui, paramos para aproveitar o sol.
Vendo que haviam alguns "caras" jogando futebol de areia, e
eu no auge de meus 36 anos, voando baixo nas quadras de
Futsal, disputando campeonatos de futebol pelas ligas
amadoras, jogava praticamente todos os dias da semana,
coisa que irritava muito a dona Rose, resolvi me convidar para
o bate bola, um dos "caras" olhando para mim disse, - Legal!
Você pode ficar no gol, Tio? Ali me dei conta de que os "caras"
eram jovens entre 15 e 20 anos mais ou menos, e que eu era
o Tio, ou, como se dizia àquele tempo, o "coroa". Pois é, antes
tivesse voltado caminhando para casa ao invés de subir no
coletivo. A garota olhou para mim e deve ter pensado,
- Tadinho, esse senhor deve estar cansado, vou oferecer o lugar
para ele. É claro que "esse senhor" é por minha conta, na
cabeça dela era, "esse velhinho". Bem vindo à terceira idade,
não há melhor identificação do que dar de cara com o tempo.
Em tempo:
A foto que ilustra o texto é de agora, no momento do post, 22 de Agosto de
2018, 14H33, bem próximo de inteirar 60 anos, daqui a 34 dias.
LuizcomZ
Enviado por LuizcomZ em 22/08/2018
Alterado em 22/08/2018