Palestra #01
Nesta quinta feira, 1º de Novembro, voltei ao roteiro das palestras nas Casas Espíritas, estive afastado há mais de dois anos por motivo de mudanças.
Nesta oportunidade o tema escolhido foi falar sobre entender a vida, tendo como conselheira, a morte. Marco Aurélio, imperador romano, filósofo estoico, assim entendia. Nos aconselhamos em momentos como esses, somos levados a questionar o porquê, as causas, o caminho traçado até o derradeiro momento. E curiosamente, não se entende o sentido da morte no momento da morte, a morte se entende a partir da vida. No decorrer da convivência com a teoria do impacto, Lucia Helena Galvão, Escola de Filosofia Nova Acrópole, trata desse tema com maestria. No momento em que se percebe o contraste a consciência toma forma. Ao notarmos a falta de algo, percebemos que o que dava sentido e razão em determinado momento, deixou de ser percebido. O impacto se dá exatamente quando há uma ruptura que nos faça perceber diferenças, como quando, olhando para um painel bicolor, se nota onde começa uma cor e termina a outra. O contraste gera consciência. Há uma música no universo que toca incessantemente, não a percebemos porque ela não tem interrupção. É o som do universo, a NASA já o provou. Sem a pausa, você não consegue identificar onde termina uma nota e começa outra. Em que isso nos toca? Somos ensinados desde sempre a viver, a vencer, tirar as melhores notas na escola, buscar os melhores trabalhos, o que de fato é sadio e válido. No entanto, a única certeza nesta vida é a morte. E o que fazemos? Nos afastamos o máximo do assunto, sequer consideramos tal possibilidade, desprezamos seu significado, tudo por medo, pavor, mau agouro, enfim, tangenciamos. Na Grécia antiga, Afrodite, deusa do amor, se une a Áries, deus da guerra e da morte, como se o amor, para crescer, surgir, sobressair, algo haveria de morrer, desligando-se para dar lugar ao novo. A reforma íntima é um bom exemplo, matamos os kurus como na guerra de Mahabharata, nossos vícios e a luz brilhará. São Francisco de Assis nos lembra muito bem, é morrendo que se vive para a vida eterna. A avó do argentino Jorge Bergoglio, dizia a ele quando pequeno, uma frase que o marcou para sempre, mira que te mira Dios, mira que te está mirando, mira que te has de morir y no sabes cuando. (Olhe que Deus olha para você, olha quem está te observando, olha que você há de morrer, e não sabe quando). Bergoglio é o nosso Papa Francisco. Temos um tempo para cumprir nossa missão, esse tempo se dá a partir do momento em que nascemos ao momento em que morremos. Ao nascer, acordamos do lado de cá com um “reservatório” de fluido vital, o sopro de Deus, para cumprir essa missão. Missão que nós mesmos escolhemos como forma de redimirmo-nos de faltas deletérias. O nosso reservatório funciona como um tubo de oxigênio, tem data de validade, você pode economizar ou gastar tudo de uma vez. Ao negligenciarmos nossa conduta, infringindo leis de transito, consumindo bebidas alcóolicas em excesso, drogas, acumulando dissabores, intrigas, guardando mágoas, desprezando o perdão, nossa reserva de fluído acaba antes de cumprirmos a missão. O contrário, tendo a noção de que viemos para servir, de que, se, gentileza gera gentileza, então, amizade gera amizade, fraternidade gera fraternidade, respeito gera respeito, altruísmo gera altruísmo, amor gera amor, perdão gera perdão, com isso podemos sim, pelas mãos de um Deus generoso e justo, receber um “oxigênio extra”. Temos assim um verdadeiro sopro de vida, uma real “melhora da morte”. Nossa missão é estendida para o serviço do bem, pela melhoria dos que convivem ao nosso redor, para o aprimoramento da espécie, pode-se dizer assim, afinal, Cristo se utiliza daqueles que querem trabalhar em sua vinha. Neste mês passado, em 13 de Outubro de 2018, meu sogro ficou internado por 47 dias na UTI do hospital Central em Porto Velho. Passamos, ele e nós, acompanhantes, pelas cinco fases que a situação provoca. Negação, Raiva, Negociação, Depressão e Aceitação. Negamos o diagnóstico. Sentimos Raiva pelo fato de ter acontecido com quem nos é muito querido. Tentamos então a Negociação, somos corruptos por natureza, lembremos de que ao nascer somos treinados para vencer, portanto, chegamos ao cúmulo de querer enganar a Deus. Oh! Senhor, me livre dessa doença, eu juro que não fumarei mais, que não me excederei mais, que de agora em diante serei... Pois é assim que fomos ensinados desde a infância. - Se comer tudinho vou levar você no shopping; se tirar dez na prova vou comprar o seu iPhone. Isso é a Negociação, para não chamar de corrupção. Não obtendo resultado, entramos na quarta fase, a Depressão. Aqui é o momento que os medicamentos não surtem efeitos, as veias estouram, as sondas entopem, a febre não cede, deprimido o corpo não reage. Em casa, os acompanhantes não comem, não dormem, nem banho lembram de tomar. E no dia seguinte é preciso voltar ao local que ativa todo o processo novamente. Mas, de alguma maneira, chega-se à quinta e última fase, Aceitação. Neste ponto, é como o referido na mitologia grega, para nascer de novo é preciso que algo seja cortado, desligado, separado. Passamos a orar pelo desencarne, a ser sensível à dor alheia, relaxamos a musculatura do egoísmo, vem então a “melhora da morte”, esta de despedida, diferente do bônus pelo servir, descrita anteriormente. No episódio que vi em Porto Velho, no caso de meu sogro, amigo e segundo pai, foi isso que aprendi.
Agora, durante 47 dias internado numa UTI, você não foi se despedir dele? Sequer uma ligação? O Talmude tem uma orientação em seus ensinamentos, - no futuro o homem terá que dar explicações por todos os belos frutos que viu e não provou. De que futuro se está falando? Isto nos remete a uma passagem bíblica em que Jesus é questionado em Jo 14:1ª3, e dá a resposta da vida futura, pois, há muitas moradas na casa de meu Pai. É deste futuro que falo. No livro de Khalil Gibran, O Profeta, ao partir da cidade em que morou por doze anos, o povo se dá conta de que ele está indo embora e resolvem lhe perguntar sobre como lidar com as diversas situações da vida, e a primeira pergunta foi sobre o Amor, a segunda sobre a Morte. Ao que o Profeta respondeu: - Quereis conhecer o segredo da morte, mas como podereis descobri-lo se não o provardes no coração da vida? Em dado momento de sua peregrinação, Jesus é interrogado, que reino é esse que Ele tanto fala, ao que o Divino Mestre responde, - Se vocês não creem no que digo daquilo que vocês veem e vivem, como quereis saber do Reino de meu Pai, que vocês não podem ver e nem sentem? Quero aqui fazer um parênteses, “essa passagem, não me recordo o versículo, mas, via de regra, diz no mesmo sentido desta narrativa”. Desta forma finalizo nosso bate papo, visto que, palestrante em nossas fileiras, são Divaldo Pereira, Haroldo Dutra Dias, Anete Guimarães, Raul Teixeira, para citar alguns. Grato a todos pela atenção e que o nosso Senhor Jesus nos acompanhe no retorno aos nossos lares.
LuizcomZ
Enviado por LuizcomZ em 02/11/2018