Textos


Um Planeta Chamado Terra
 
O mundo é interessante... tem um planeta, ele não é muito grande. Claro, comparado aos demais existentes no sistema solar em que orbita, ele é bem pequeno, na galáxia então, é um grão de areia, se, tanto.
E o nome?
Terra. Planeta terra. E o curioso é que apesar de ter esse nome ele é composto em sua maior parte por água. Cerca de 71 porcento. Mas, o mais interessante é que existem seres que o habitam e se acham.
Como assim, se acham? Alguns por acaso se perdem, ou somem para que depois se os encontrem, ou os achem?
Não, nada disso, se acham no sentido de se imaginarem grandes, fortes, poderosos, inatingíveis, inacessíveis. Enfim, como se o universo todo se criou por conta de apenas ser observado, algo como um jardim, um quadro numa enorme parede. A lua e as estrelas seriam como um adorno apenas para serem apreciados pelos seus habitantes.
E por que se pensam dessa maneira? Há por acaso duas ou talvez mais classes entre eles?
Pensando bem, é possível que isso seja um dos fatores.
Como uma divisão de classes; refere-se a isso?
Não exatamente sob esse aspecto, penso que seja mais pela forma como se comportam, como se vejam entre si. Há os desligados, os muito ligados. Aqueles que se preocupam e os que não se importam. Os que tem problemas e os que criam problemas, como os que sempre resolvem problemas. Há também os preocupados e os descomprometidos. Alguns são amorosos e outros insensíveis. A grande maioria acredita, embora uma parte menor, porém significativa, desacreditam. Penso ainda que talvez, essas variáveis todas, seja possível existir numa única espécie.
Interessante esse pensamento, e como seria possível tal espécie?
Imagino que ao deitar-se está de um jeito. Logo pela manhã tem outra postura. Ainda pela manhã muda de aspecto, para então, no lidar com outros de sua espécie, fingem determinadas aparências para camuflar seu real sentimento.
Um engodo?
Não necessariamente. Apenas que ao longo do dia todas essas características são possíveis de serem notadas.
Estranho. Seria necessário um tamanho considerável para uma única espécie acumular tantas variáveis.
Aí é que reside uma curiosidade interessante a respeito. São todos do mesmo material, logo não variam muito de tamanho, alguns sobressaem pela estatura, mas o nivelamento se dá pela aparência, quero dizer, aparentemente todos são iguais.
Continuo a achar estranho sua explicação.
É como num jogo de cartas, você pode não ter o coringa, mas faz cara de quem possui.
Blefe.
Sim, um blefando em cima do outro.
Mas quem possui tais características? O mais alto, o mais largo, o mais claro, o mais forte, o mais...
Não se trata de o mais, trata-se de o menos.
Agora sim, voltei a não entender. Como o menos pode ser mais?
O menos inteligente sofre mais, o menos arrogante considera mais, o menos folgado é mais simpático, o menos falastrão é mais respeitado, no entanto, o menos inteligente pode ser o mais esperto. Assim como o que mais considera possa sofrer mais, e o mais falastrão pode ser o que mais se dá bem.
Mas que espécie mais complicada essa, hein? Seria possível haver duas ou mais características na mesma espécie?
Prepare-se para o que vou lhe dizer. Sim, não só é possível, como há espécie que tem várias, eu diria que praticamente todas essas características juntas.
Ora, mas isso seria possível?
Acredite.
Há de haver então um enorme conflito nessa estrutura.
Pois escute bem, todas essas características e muitas outras que não mencionei estão juntas, cada uma das espécies as possuem por completo, como um chip, um HD.
Por Netuno, há de haver uma enorme complicação em uma espécie assim.
De fato, porém, essas características todas estão latentes. É preciso que sejam acionadas de alguma forma. A reação, a emoção, depende do sentimento instado no momento.
Está a me dizer que todos tem as mesmas características e ainda assim tem uns que se acham?
Exatamente. Uns pensam, por exemplo, que nunca irão precisar de um outro. Ou que o outro não é importante a ponto de merecer alguma consideração. Evidentemente, nem todos tem essa compreensão. São níveis diferentes. Assim como, há os que se importam muito a ponto de se tornarem invasivos. Estes podem sofrer rejeições, o que os tornam chatos no dizer deles.
Então, além de grandes, gordos, claros, existem os achatados?
Não nesse contexto. Chatos, são aqueles que não se tocam, não possuem o desconfiômetro.
Seria uma nova categoria, não se tocam por serem inatingíveis?
Pelo contrário, são muito atingidos. Não se tocam por não perceberem que estão sendo indelicados, intrometidos, preocupados demais, desligados demais, antenados demais e por aí segue uma lista interminável de situações. O que gera uma outra situação de toque, aí sim, literalmente.
Explique.
A invasão é tamanha que chegam a trocarem toques uns entre os outros, na verdade se espancam, física e psicologicamente.
Nossa, que planeta estranho esse!
Mas de tudo isso, é preciso entender que eles não sabem que há outras formas de vida, outros planetas. Imaginam-se cada um sendo um planeta. Cada um com sua estrela, sua lua seu sol. É dessa forma que alguns se entendem. É como se sentissem donos da própria vida. De certa forma isso é pertinente. No entanto, a vida de um depende de saber onde começa a vida do outro.
Você quer dizer que não há limites entre um e outro.
Exatamente. Esse é o ponto. Onde termina minha vida e começa a vida do outro? Essa questão não fica clara para alguns deles.
Mas não há uma regra entre eles, uma organização dos valores ou dessas características?
Na verdade, o que existe é que cada um cria sua própria regra, seu modus operandi. A minha estrela funciona assim, a minha lua é mais clara, meu sol é mais quente. Algo dessa natureza.
Nossa, isso é praticamente como cada um por si e venha o que vier. Não é de se admirar que haja tantos conflitos.
Mas é possível ver evolução nesse planeta, a cada nova vida, novo habitante, percebe-se que houve uma melhora da última vez que esteve por lá.
Bem, pelo menos isso. Mas ainda, assim tal evolução é lenta.
Como tudo, aliás, diga-se a propósito, daqueles que mencionei, os que desacreditam, geralmente ressentem alguma mágoa não pelos da mesma espécie, mas por algo que ele próprio não acredita que exista.
Como assim, ainda existem espécies que pensam haverem vindos do tal paraíso?
Essa analogia é perfeita à todos, pelo menos em algum momento desde sua chegada ao planeta, afinal, a menos de 500 anos, tempo este que é nada diante da imensidão do universo, ainda se esquartejavam, empalavam, torturavam em extensores até que membros fossem arrancados e atirados aos animais ou deixados ao tempo para que aves de rapinas os devorassem. Logo, nessa caminhada evolutiva em algum momento se acredita nesse modelo.
Faz sentido.
Quando não se pode gerar uma vida, alguns deles pensam logo que há uma diferenciação naquilo que se entende por merecimento. Afinal, se todos são da mesma espécie é de entendimento que todos tenham as mesmas condições. Por que uns podem mais que outros? Essa é uma questão presente em todos os níveis. E, também um enorme conflito, não somente entre eles, mas principalmente internamente.
Mas, se a espécie não acredita em nada além do que vê, como pode se revoltar contra algo que não vê, menos ainda, que não acredita existir?
Pois então, fica feito o registro, todos que dizem não acreditar em algo acima e superior negam a própria afirmativa ao se declararem contrário à crença em algo.
Explique, ficou um tanto confuso.
Quando você não acredita em algo, você não pode sequer imaginar como seja, sendo assim, esse modelo não existe, não existindo, deixa de ser motivo de preocupação.
Entendo. É como fazer caretas para cego. Mas francamente, o que mais importa para esses tipos?
A questão egóica é muito forte entre eles. Ao nascerem percebem desde cedo que chorando são atendidos, recebem colo, leite, são protegidos. Isso vai sendo ampliado de forma mascarada para a idade adulta.
É a lei do quem pode mais, chora menos?
De certa forma, sim. Isso implica numa outra questão, sendo mais forte, ao invés de compartilhar, agregar, ensinar ou proteger, ao contrário, usa da soberba, da falta de indulgência. Niilista, nunca será empático.
O dia já vai se fechando, o nosso sol recomenda repouso, continuemos nossa avaliação amanhã. Bom descanso, Eufrásio.
Algum tempo depois, encontram-se novamente. Eufrásio ainda curioso com a última conversa, indaga: Como será que está a situação naquele planeta que mencionastes em nosso último colóquio? Melhorou por certo?
Quem dera. Por certo não está sabendo da última, pois vou lhe contar. Fiquei sabendo que houve por lá uma pandemia. E não é a primeira. Ainda pior é o fato de usarem de pleonasmo ao se referirem a ela. Entre conversas amiúdes e mesmo alguns que se dizem formadores de opiniões, referem-se a ela como sendo uma pandemia mundial. Ora, sendo pandemia, só pode ser mundial, do contrária seria endemia. Se daria em alguns países, ainda que em continentes diferentes. Mas o que os habitantes não entenderam é que isso tudo tem um bom propósito.
Como assim, algo tão ruim pode ter um propósito bom?
É como se apregoa, há males que vem para o bem. Ao invés de reavaliarem suas atitudes e comportamentos, ao contrário, com poucas exceções, a maioria entrou ruim e sairão piores. Ficou claro, embora todos estejam usando máscaras, que a máscara caiu.
Como pode ser isso?
Quando esses habitantes iam, por exemplo, num mercado, mesmo o mercadinho, lugar comum de todos num determinado bairro, mesmo a contragosto, se cumprimentavam, ainda que com cara de paisagem, mas saia um bom dia, como vai, olá; algo como um ligeiro aceno de cabeça ou levantar de sobrancelhas.
Se refere àquela cordialidade da boa vizinhança?
Sim, essa mesma, agora com o uso da máscara, aproveitam para serem descorteses, arrogantes, escolhem a quem cumprimentar ou o que é pior, escolhem a quem reconhecer.
Absurdo. Mesmo numa situação que demanda a solidariedade, a consideração, agem com total empáfia?
E tem coisa pior.
O que pode ser ainda pior?
Há os que usam a situação para se promoverem, ganharem dinheiro com o sofrimento alheio. Inventam artifícios com o propósito de fingindo-se incomodados e demostrando falsa abnegação, pedem recursos para atender no tratamento à pandemia e usam como caixa dois.
Caixa dois, quantas caixa há para cada um?
De verdade, o certo é que haja apenas um caixa. E que seja bem utilizado. Mas a ganância e o abuso, levando-se em conta que a fiscalização, embora exista e seja rígida, perde força quando os espertos, aqueles a quem me referi que não sendo inteligentes usam da esperteza, mudam leis e criam decretos que facilita o desvio do dinheiro.
Mesmo tratando-se de doença, saúde pública ainda assim existem aproveitadores?
Sempre os há. E tem mais uma agravante. Quem deveria por ética levar informação de qualidade e orientar a população, são veículos de mídia que monopolizam as informações e passam a fazer concluiu com quem paga mais.
Por que não pedem uma pesquisa para orientarem-se a esse respeito?
Pesquisa? Meu caro Eufrásio, os institutos de pesquisas são os mais manipuladores. É dai que saem as manchetes mais avassaladoras, populistas, descabidas. Embora haja em algum momento pesquisas coerentes, a grande maioria, sobretudo as que tratam de política, seja ela partidária ou econômica, são todas manipuladas. Infelizmente o sistema é corrompido. São poucos, a humanidade é boa, confiável, porém, o poder está nas mãos de quem não tem pudor, caráter e consideração com quem lhes dá poder.
Opa, agora fiquei confuso, quem dá o poder é o mais prejudicado?
Pois então, existe uma condição para que um determinado grupo possa escolher o que fazer com os recursos angariados do povo. Acontece que os que escolhem, além de escolherem mau, não cobram pela escolha. Os escolhidos por sua vez, nem todos, fazem o que bem entendem, inclusive descumprirem o regimento que eles próprios criaram.
Que situação essa, chega a ser cômico, se não fosse trágico.
Para se ter uma ideia, até medicamentos são falsificados ou superfaturados, isso para não dizer que a tal mídia, atendendo interesses outros que não o de informar corretamente, divulgam notícias de esse ou aquele medicamento não tem comprovação cientifica, e todos sabem que o remédio é usado há anos em regiões onde existem doenças tropicais, como a malária. Isso sem nunca haver tido relado de que houvesse efeitos colaterais qualquer. Veja, estou dizendo que nunca houve relato, no entanto, agora aparecem especialistas de todas as áreas dizendo o contrário.
É, pelo jeito tem alguém lucrando com isso.
De uma coisa estou certo, o que não se corrige pelo amor, corrige-se pela dor.
Ah! Certamente, como diz a lei, “Haverá ranger de dentes”.
A conta há de chegar para esses tais, o castigo vem à galope, e os cavalos da providência superior troteará por sobre os iníquos.
Que coisa essa tal de Terra, heim?
Pois então, preciso ir, tenho alguns afazeres, até breve.

Foto do texto: Autor desconhecido, não identifiquei o autor.
LuizcomZ
Enviado por LuizcomZ em 30/07/2020
Alterado em 03/08/2020


Comentários