Em época de pandemia
Convém lembrar de um fato que ocorre todos os dias e que não é percebido pela imensa maioria das pessoas.
Trata-se de uma morte silenciosa. Um ser igualmente criado por Deus. Um ser que não anda, não caminha, que rasteja, um ser rastejante. É sabido por quem já percebeu em estudos e observações, que as cobras morrem igualmente todos os dias. Também se sabe que poucas, bem poucas pessoas viram uma cobra morrer. Já se viu cobras mortas, mas cobra morrendo, uma parcela ínfima da população pode notar. Elas, quando sentem que a vida está por findar, se recolhem em um local afastado e propício para esperar pelo fim da jornada, e não adianta querer reanimá-la com qualquer coisa que prolongue sua existência, elas não aceitam. Na índia, as Najas, quando sabem que o tempo delas está terminando, recolhem-se em arbustos se enrolam e esperam pacientemente pelo fim da vida. Um Yogue quis proporcionar a uma dessas Najas um pouco mais de vida. Levou-a para junto de si e cuidadosamente lhe deu de comer, ela simplesmente rejeitou a comida. Nada que ele pudesse fazer insistindo, a fez comer ou beber. Agora, pensemos na seguinte mensagem que um ser rastejante nos passa. Se esse ser que rasteja às escondidas, que só atacada para se defender quando vê seu espaço invadido, que não é querido pela maioria da população, sabe a hora de se retirar da vida, por quê é que nós, humanos insistimos em prolongar nosso tempo? Sobretudo quando não há o que se fazer. Qual é a primeira coisa que fazemos ao nascer? Inspiramos. Qual é a última coisa que fazemos ao morrer? Expiramos. Entre uma e outra, a vida. Seria normal então que a útima expiração fosse dada com sabedoria. Sabendo que nosso tempo acabou. Que, o que fizemos está feito, o que não fizemos cabe apenas o lamento, o pedido de perdão. Já não será mais possível. Não importa o motivo que nos leva ao final do nosso tempo, desde que não seja pela própria vontade. Não se trata de decidir que hora é o nosso fim. A vida nos é dada para ser vivida na sua mais completa integridade, retirar-se da vida por outro meio que não o seu fim ou por desrespeito à cuidados para mantê-la íntegra, é suicídio, o que entendo ser um ato tresloucado e contrário ao entendimento racional. Então, por quê não entender o que se passa conosco nesse momento atual?
Não falo de reprimir os sentimentos. Digo de como encarar. Sobretudo, de não buscar culpados pelo ocorrido. O tempo de cada um está determinado, seja por exaustão do fluído vital, como no caso das cobras, ou por uma ingerência de nossos atos. Doenças ou imprudências. Começamos a vida morrendo. Morremos a cada dia. Nossas células morrem diariamente. O ponto crucial é o parar de respirar, é a última expiração. E como viemos, vamos. Só.
A pandemia é apenas um dos muitos motivos, ou, o motivo pelo qual muitos haviam de se retirar da vida.
Que possamos viver por longos dias e felizes.
Foto: vidassimples.com
LuizcomZ
Enviado por LuizcomZ em 02/09/2020