... Não, não é a música do Leandro e Leonardo!
Dia desses apareceram alguns turistas no Kyozky, quatro, um casal e dois amigos. O casal de idade acima dos cinquenta e poucos anos, é o que aparentavam. Os mais jovens na casa dos trinta. Pediram se eu poderia colocar um samba. Disse que sim, contanto que fosse um samba de raiz ou fundo de quintal, partido alto. Eles disseram que gostariam de um “pagodinho”(*). Disse então, pagodinho, só se for o Zeca, ou Tião Carreiro! Entreolharam-se com um misto de riso e espanto, e voltaram com a pergunta quase em uníssono. Como assim, Tião Carreiro é sambista? Disse de volta, é o único pagode que toco por aqui, de resto, as modas de viola caipiras raiz. Mas tem um dia certo para isso, às quartas feiras, o evento recebeu o nome de Quarta Sem Lei, e antes que me perguntassem disse que a palavra, LEI, é um acróstico. Piorou. Tive que explicar primeiro o que era acróstico. Feito isso, traduzi o tal acróstico. LEI, é Leviandades, Estupidez e Intrigas. Ou seja, Quarta Sem Leviandades, Estupidez e Intrigas, só alegria e divertimento. Mas, ainda assim insistiram que eu tocasse o tal “pagodinho”. Repeti com muita calma e educação que a playlist do Kyozky era o único item inegociável. Foi quando um deles pediu que eu desse um exemplo de samba de raiz ou o que fosse, quem cantava, coisa e tal. Disse a eles em tom coloquial e numa conversa tipo, pé de ouvido, mesa de bar, tratando-o na primeira pessoa. Não cantarolei, não declamei, falei, apenas:
- Você sabe o que é ter um amor, meu senhor, ter loucura por uma mulher, e depois encontrar esse amor, meu senhor, nos braços de um outro qualquer...? Porque outro dia, o Arnesto nos convidou prum samba, ele mora no Brás, nóis fumos, não encontremos ninguém. Nóis vortemos com uma baita duma reiva. Da outra vez nóis num vai mais.
Teria continuado, mas, a mulher balzaquiana, virou-se para o amigo, ou namorado, e com um sorriso doce disse, - Nossa, amor, isso parece um poema, que legal. Foi quando o mais velho disse, acho que sei o que é isso, se não me engano é um samba do Adoniran Barbosa, se referindo ao segundo verso. Comentei que o poema, o primeiro verso, é de Lupicínio Rodrigues, um samba cujo nome é Nervos de Aço. São versos eternos, poesia que o tempo não apaga. Por fim, a moça pediu que eu colocasse o samba do Lupicínio, escolhi uma versão com Paulinho da Viola, é a que está no áudio deste texto.
O Kyozky se reserva o direito de tocar Rock dos anos 1970 para trás, Bossa Nova, Sambas com esses, Jazz e muito, mas muito Blues.
(*) O tal pagodinho era um tal de Molejo(!)
LuizcomZ
Enviado por LuizcomZ em 13/09/2020
Alterado em 13/09/2020