Algumas vezes tenho que responder uma pergunta que se tornou para muitos uma incógnita, para outros uma falácia, para outros uma possibilidade, para mim, uma certeza.
Luiz, você acredita em reencarnação?
Respondo, sim, acredito. Porque esta não deve ser uma vida suficiente para entendermos tudo o quanto há. Menos ainda entender quem a criou. Francamente, oitenta ou cem anos, ainda que lúcidos não é suficiente para se conhecer tudo e todos, a começar pelos parentes, vizinhos, quem mora no meu bairro, na minha rua, quem é o morador barulhento do andar de cima. Uma vida inteira e não sou testado em todas as minhas possibilidades. Portanto, não sei ao certo do que sou capaz.
Isso do ponto de vista pessoal. E que dirá da vida em abundância, do viver, do gostar, do ver, do sentir, do motivo que leva um ser esquecer-se de si e abdicar sua vida pela vida do outro. Por que um pássaro faz sua casa num determinado ponto estratégico em uma árvore e somente naquele tipo de árvore, e sempre virada para o sol poente e não o nascente? Que força, energia ou motivo faz com que um inseto minúsculo deslize horas e horas em busca de um determinado alimento, rejeitando outros tantos que encontra pelo caminho até encontrar exatamente o que busca. Algumas pessoas me dizem, que, para reencarnar é preciso que a alma, ou espírito (são a mesma coisa), fique em algum lugar, e que esse lugar não existe, nunca existiu, então, como eu posso acreditar em algo que não há sequer um lugar para "ficar esperando" uma nova vida?
De verdade, no fundo, uma parcela significativa dos que dizem não acreditar em vida após a morte, torcem, ainda que calados, para que exista essa possibilidade, pela chance de rever a pessoa amada, o filho ou a mãe que partiu muito cedo. Então, digo que é preferível estar em um lugar que não existe com a pessoa amada, do que em algum lugar qualquer sem a presença dela. Para ser feliz, não importa se é só ou acompanhado, se é a minha felicidade ou a de alguém, afinal, felicidade é por algo que nos alegre, não importa de quem seja.
Lembro-me de ouvir certa vez que uma comunidade cresce quando as pessoas plantam árvores sabendo que não desfrutarão de suas sombras.
Pessoas de bem e felizes fazem esse tipo de coisa, e fazem sem esperar nada em troca, fazem simplesmente porque gostam. Muito embora não saiba, um dia abraçarei meu amigo pela última vez, beberei um espresso pela última vez, olharei o mar pela última vez, ouvirei minha música preferida pela última vez, brincarei com meu animal de estimação pela última vez, deitarei ao lado da pessoa que amo pela última vez.
Acontece que não tenho ideia se é a última vez ou não, e, por isso mesmo não dou importância por achar que na manhã seguinte tudo estará lá novamente me esperando, o amigo, o café, o mar, a música, o cão, o gato, a calopsita, as pessoas que amo, mas só que não, não é assim que as coisas acontecem. Antes, é preciso saber que não tenho o controle, não sou eterno, nem tenho a resposta pronta para tudo. Preciso ir construindo, conquistando, buscando entendendo tudo o que estiver ao meu alcance, tudo o que estiver podendo conhecer, alcançar e viver em sua plenitude. Penso nisso como algo óbvio, pura matemática. Afinal, Deus não criaria todo esse universo para ficar restrito ao meu mundo, meu estado, minha cidade, meu bairro, minha rua, minha casa, minha família, ou, meu umbigo.
Então, vejo-me obrigado a questionar-me, esse tempo vivido é suficiente? Uma vida inteira repleta de afazeres e de conquistas é suficiente para eu entender o que a mulher sente, ou ela o que sinto eu? Vidas para serem vividas e compreendidas.