Caminhas ao vento
Na mente um sentimento
Nos pés um pensamento.
Tortura?
Nada do que escrevo há significado,
A não ser pelo seu próprio traçado.
Explicar o pensamento,
Nem pensar.
Tudo o que crio tem uma sombra a perseguir
Um dedo em riste
A te espezinhar,
Intelecto a criticar.
Não posso dar em anexo
Um dicionário a explicar.
Poesia é loucura.
Sim. Provavelmente somos todos loucos.
Ando rouco.
Meus traços me deixam mouco.
Para você pode ser que seja,
Para mim, nem ao menos um extremes.
Tão pouco poesia de embriaguez.
É pura lucidez.
A partir do momento
Que tento explicar,
Perco o viço.
Sinto-me fraco, cansado,
Tomo chá de sumiço.
Não me peça explicação
Leia e sinta
Se tiver pulsação,
Esperneie
Se tiver coração,
Ou simplesmente
Rejeite.
Diga não.

*escrito em Campo Grande-MS janeiro de 1985